segunda-feira, 27 de outubro de 2014

O Homem é uma criatura estranha #1


Numa época onde podemos ser tudo aquilo a que a nossa cabeça se propuser a ser, onde não temos já necessariamente tantos conservadorismos nas famílias, onde as pessoas podem andar na rua quase como se em casa estivessem, estamos como sociedade a afundar-nos numa descida em montanha-russa de suicídios, crise financeira, egoísmo e tentativa desenfreada de conseguir fama, seja a a ser realmente bom, seja a fingir que se é realmente bom (sendo o útimo caso o mais frequente).
Os jornais deviam começar a vir com a notícia do dia sempre a informar quantas pessoas se suicidaram no dia anterior. À custa de ter de ler essas manchetes, o comum mortal lia de manhã antes de ir para o trabalho ou para o supermercado mais próximo logo assim de repente enquanto deixava cair migalhas do folhado misto comprado já meio ressequido no café da esquina: 

Ontem suicidaram-se cem pessoas. 

E o comum mortal visualizava logo, na sua mentezinha atarefada cheia de "estou atrasado", "tenho de ir aos correios depois do trabalho", "a sopa já deve ter azedado", "mudar o óleo ao carro", uma fila de cem pessoas, lado a lado, todas a suicidarem-se. E se calhar essa visão já o fazia pensar. 
Porque isto de o comum mortal não ter noção do que se passa com as pessoas com quem cruza a rua, com quem come macarrão com queijo no restaurante do menú mais barato ou com quem discute no trânsito porque alguém se esqueceu de pôr o pisca, tem de acabar.
O comum mortal está mais egoísta que nunca. Escuda-se no "é a crise" para justificar o que deixou de fazer pelos outros, porque é que deixou de ajudar quem quer que seja. "É a crise." 
Nos Estados Unidos, por ano (façam uma pausa dramática para o vosso cérebro registar melhor o que vou escrever), suicidam-se trinta e duas mil pessoas. 
Sabem o que é que são trinta e duas mil pessoas?
Imaginem o pavilhão atlântico cheio até ao último de lugar de pessoas, todas a suicidarem-se, mas com a diferença que lá fora na fila para entrar estavam mais treze mil pessoas, também todas a suicidarem-se. 
É esse o número de suicídios nos Estados Unidos, por ano. 

Ficaram com uma ideia?



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